7 de dez. de 2014

LIVRO #12 - Alho, Cebola e Beijo na Boca – Fernando Botto

Dados do Livro




Título: Alho, Cebola e Beijo na Boca
Autor: Fernando Botto
Editora: Juruá Editora
ISBN: 978-85-3620-636-3
Edição: 1ª Ed. 2004 – 5ª Reimpressão 2009
Estilo: Literatura Brasileira: Crônicas de Humor
Páginas (total): 106
Preço de Capa: R$ 19,90
Avaliação Skoob: 4,8



Sinopse


No terreno do humor, Curitiba é reduto quase que exclusivo do patusco mas sinistro Dalton Trevisan. Porém, descobre-se uma veia cômica mais frugal e irreverente, encontrada na melhor literatura do carioca Millôr Fernandes e do gaúcho Luís Fernando Veríssimo. Trata-se de Fernando Botto, que estreia com Alho, cebola e beijo na boca, um muito bem humorado livro de contos/crônicas, que despretensiosamente retratam o cotidiano contemporâneo desta eterna, embora cada vez mais metropolitana, província. Os cenários são os rotarys clubes, os salões de bailes dos tradicionais clubes Concórdia e Curitibano (com suas formidáveis festas de formatura) a confeitaria Caruso, a feirinha hippie, o nosso peculiar trânsito curitibano e muito mais. Já as personagens, como não poderiam deixar de ser, são a típica pequena burguesia curitibana e suas sagradas instituições (entre ela, claro, nossas famílias), com seus valores, cerimônias e formalidades mesquinhos e hipócritas - mas muitas vezes líricos e ingênuos. Enfim, o "leitmotiv" dessa obra é sobretudo o fabuloso, hercúleo, original - mas vão - empenho desses nossos contemporâneos em varrer para debaixo dos tapetes as nossas mesquinhezas e velhacarias as mais repugnantes, porém não menos dignas da mais refinada apreciação cômico-literária. Por isso, relaxe e aproveite a leitura.


O Autor

Nascido na capital paranaense em 1975, Fernando é professor universitário, formado em Direito, especialista em Negócios Internacionais pela UFSC, graduado em Psicologia e pós-graduando em Saúde Mental, Psicopatologia e Psicanálise pela PUCPR.
Eclético, também já cursou Agronomia, Química e Letras. Nas horas vagas, ele não deixa de jogar uma partidinha de xadrez ou de futebol, ou então pode ser encontrado tomando um expresso no já tradicional Café & Cultura.
Mas o que ele gosta mesmo é de lecionar - o que faz já há quase uma década - e de desenvolver projetos nas áreas jurídica, empresarial e educacional, principalmente no que diz respeito a oratória, relacionamento interpessoal e motivação.

Dialética

Crônicas de Humor sempre foram a minha leitura favorita. Então imagine a felicidade que foi me deparar com Alho, Cebola e Beijo na Boca, como não amar um livro cujo título já te faz imaginar inúmeras situações cômicas?
Pois, quem dera se o livro se limitasse ao humor cotidiano do título, porém ele segue a frente, melhora, transforma situações cotidianas da burguesia curitibana em esquetes hilárias e nos apresenta 26 crônicas inteiramente únicas, originais, com uma sagacidade pungente e recheada de estereótipos e conceitos que traz lagrimas aos olhos devido a tantas gargalhadas.
É difícil falar sobre um livro que você adorou, ou como neste caso que possui diversas crônicas, e todas são a nata do humor. A vontade que tenho é de resumir cada crônica aqui, para que todos possam conhecer o humor de Fernando Botto. Mas, não irei fazer isso, não por achar errado divulgar a obra do autor sem sua autorização, mas por reconhecer que jamais conseguiria reproduzir o lado cômico das crônicas sem copiar todas em sua totalidade.

Por isso, irei falar essencialmente sobre quatro das minhas crônicas favoritas. Vou esmiuçá-las até o amago de sua contextualização burlesca, afim de apresentar o que realmente é a escrita de Fernando Botto, um autor que merece fulgurar entre os grandes nomes de autores de crônicas, como Clarisse Lispector, Fernando Sabino, Rubem Braga e outros tantos autores cuja obra fora dedicada a situações tragicômicas do dia-a-dia.

Entre os vinte e seis títulos deste livro, escolhi quatro que possuem não só uma situação cômica como também representa a hipocrisia nacional e que com certeza me conquistaram logo em suas primeiras linhas foram: Fruta-do-conde; Alfredinho e o Cinema; Vale quanto Come e Água-de-coco.

Fruta-do-Conde
Com apenas duas páginas Fernando Botto conseguiu desmembrar de forma hilária uma situação corriqueira de toda dona de casa, ou mesmo do jovem que vive sozinho: a ida a feira.
Nesta crônica, o autor apresenta o típico feirante vigarista que não mede esforços para vender o seu produto, aquele tipo vil e maquiavélico que encontramos na maioria das bancas de frutas e verduras das feiras de domingo. Joaquim o feirante busca agradar o cliente, mesmo que para isso precise contar uma mentirinha do bem, ele é aquele cara que concorda com você quando você opta por comprar um tomate verde, pois, acredita que ele possui menos agrotóxicos que o maduro, mesmo que sejam exatamente iguais.
Embora aqui não exista um tomate e sim a fruta-do-conde. Da amiúda a grandona, da saborosa e carnuda a esnobe e seca, daquela com mais caroços à aquela que quase não o possui. Praticamente iguais, as frutas diferem no tamanho e preço, mas para vender, nada melhor do que ludibriar o cliente e faze-lo comprar a mais cara, acreditando que está levando o melhor produto da feira, o famoso “gato por lebre”.

Trecho:
Ih, é muito melhor. A miúda é mais saborosa, mais carnuda, tem menos caroços e é mais barata. A graúda é para o pessoal que quer dar uma de chique... quem compra a graúda ou é porque quer esnobar ou não entende nada de fruta-do-conde. – pag. 19

Alfredinho e o Cinema
Nesta crônica divertidíssima, Fernando faz um dura crítica aquelas pessoas que sempre fazem de tudo para ver o lado negativo das coisas, que sempre busca uma explicação sensacionalista para situações comuns.
Em Alfredinho e o Cinema acompanhamos em duas páginas acompanhamos esse indivíduo que sempre encontra um motivo para rejeitar o convite de ir ao cinema, a sempre algo que o desagrada e o que o impele a negação.
É o sujeito brasileiro esnobe, critico, superficial que não se dá o direito de viver os simples prazeres da vida por achar que tudo tem que se encaixar na sua forma deturpada de ver as coisas.

Trecho:
E Alfredinho, surdo e mudo, babão e com pelos na orelha finalmente conheceu o cinema. Pag. 69

Vale o Quanto Come
O Retorno de Alfredinho. Essa é uma das maiores crônicas do livro, com quatro páginas, o autor traz uma crônica repleta de machismo e conceitos ultrapassados que muitos homens ainda teima em manter, Alfredinho nesta história e um cara de meia idade que encontra a satisfação no sexo sem compromisso, julgador nato, atribui características as pessoas sem conhece-las, apenas pela forma de se vestir, caminhar ou comer.
O machismo impregnado em Alfredinho chega a ser cômico, porque querendo ou não, muitos homens e até mesmo mulheres se encaixam em sua linha de pensamento.
Essa foi uma das crônicas que mais me fez rir ao seu termino, de forma brilhante o autor encerra essa historieta com um gancho certeiro de direita, não a espaço para resposta ou para dúvida, o soco acerta em cheio.

Trecho:
“— É só notar. Veja aquela ali por exemplo. Magrinha daquele jeito só vai na saladinha. Sexo não é com ela. Pelo jeito é do tipo que acha que a cópula só deve ser praticada para fins de procriação”. – pag. 79

Água-de-Coco
Na última crônica do livro, Fernando apresenta uma situação comum em nosso Brasil, país com um grande número de analfabetos e semianalfabetos, pessoas que com pouco ou nenhum estudo e domínio sobre as letras, precisam trabalhar, ganhar o seu pão de cada dia.
Nesta estória, outra banca, desta vez uma banca de água-de-coco na praia, algo comum para os frequentadores de lugares como esse. Porém o que realmente é abordado nesta obra é o uso incorreto do português, a grafia erra das palavras.
Perseguido pelo devaneios de homens letrados, que cometem erros piores, o vendedor é questionado sobre a grafia errada da placa de propaganda da barraca e, se vê obrigado a corrigir tal erro, porém como é de se esperar uma pessoa que não possui o conhecimento e apenas recebe críticas tende a cometer o mesmo erro.
E aqui se vê isso acontecer, a cada correção o erro fica mais gritante e grosseiro.
Acredito que essa crônica é uma crítica a nós que optamos apenas por julgar a dificuldade do outro, mas nunca recorremos a forma correta de ação, que seria ajudar aquela pessoa, e não apenas critica-la e esperar que mude seu jeito apenas por causa de nossa indignação.

Trecho:
“— Me diz uma coisa: se você deixar a expressão “[agua de coco” sem acento no “o”, não pode acabar criando uma confusão das pessoas lerem cocô ao invés de côco?” – pag. 103

Devo dizer novamente que adorei o trabalho do autor, ele merece ser acompanhado, ou melhor “degustado” em todo o seu teor, talvez eu não tenha conseguido expressar realmente o quanto este livro é maravilhoso, então fica a você a responsabilidade de adquirir o livro e se divertir com as situações urbanas mais comuns.
Ao autor eu digo apenas: Achei muito boa aquela crônica do papagaio.


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Para conhecê-lo melhor ou trocar uma ideia, entre em contato pelo e-mail palestras@mps.com.br, ou visite seu site na internet www.alhocebola.kit.net.

Editora: Jurua

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Julielton Souza