3 de set. de 2014

Japão e as influências na cultura jovem brasileira. – Parte III

Dando continuidade as postagens semanais sobre a cultura japonesa e suas respectivas influências na nossa cultura, falaremos sobre duas correntes culturais muito difundidas mundo a fora.
Os espetáculos e tradições, bem como as danças japonesas são riquíssimas fontes de cultura e possuem grande responsabilidade no desenvolvimento de diversas culturas mundiais.
Lembre-se, caso deseje ver melhor as imagens, clique nelas para ampliar.

 Espetáculos e tradições
O Japão costuma atribuir a honraria de patrimônio cultural a diversos espetáculos de cunho histórico-religioso exibidos em todo o seu território. É bem verdade que cada província possui sua própria lista de tradições e espetáculos, culminando em inúmeros festejos realizados ao longo do ano.
Os festivais culturais japoneses são chamados de Matsuri, e geralmente, são regionais, ou seja são desconhecidos em outras regiões do país, porém outros de grande porte são conhecidos e adotados mundo a fora.
Como o Brasil é um reduto da população Nikkei (descendentes de japoneses nascidos fora do Japão) diversos espetáculos e tradições foram adotados pelo estados de São Paulo e Paraná.
Mais precisamente nas cidades de São Paulo, São Carlos, Curitiba, Ribeirão Preto, Londrina, Assaí, Paranavaí, Osasco, Maringá, Mogi das Cruzes e São Roque.
A seguir irei apresentar alguns destes espetáculos tão encantadores realizados em vários cantos do território japonês.



Yokagura
Yokagura é um festival realizado na Província de Miyazaki e consisti em um ritual dedicado aos deuses em agradecimento a colheitas do outono e para que o sol volte forte depois do inverno, iluminando e propiciando melhores colheitas no ano seguinte.
Especificamente o Yokagura consiste em um ritual que mistura dança e teatro, onde os participantes se fantasiam encenam lendas mitológicas e dançam das 14 horas do sábado as 10 horas do domingo, durante a noite, vinte pessoas escolhidas a dedo se revezam dançando as trinta e três partes da kagura, uma dança criada para divertir os deuses. A palavra yokagura significa basicamente o kagura noturno.
Segundo a lenda essa dança teria sido criada pela deusa Amenouzume para recuperar a luz do sol durante o Ama-no-iwato. Essa tradição perdura a no mínimo 800 anos.
Atualmente apenas 19 comunidades da cidade de Takachiho, província de Miyazaki executam anualmente essa tradição, anteriormente haviam um total de 56 comunidades.


Hanami
Esse seria na minha opinião o mais belo dos festivais, não que já o tenha presenciado, mas como amante da cultura japonesa, sempre estou atento a vídeos, filmes e documentários relacionados a esse assunto.
O Hanami é um costume tradicional adotado na ilha de Okinawa, e resume-se em contemplar a beleza das flores de cerejeira. As flores, ou sakuras em bom japonês, florescem anualmente por volta do meses de janeiro e fevereiro em Okinawa, e como as Sakuras permanecem floridas apenas por uma ou duas semanas, o governo, as redes de televisão e toda a população monitoram o florescimento. E para tal foi criado a previsão de florescimento (sakura zensen) a qual é anunciada e observado pela Agência Meteorológica Japonesa.
O desabrochar começa em janeiro na província de Okinawa e em meados de março e abril chegam a Quioto e a Tóquio. E apenas no finzinho de abril chega a Província de Hokkaido.
Durante o Hanami as famílias deixam suas casas e se juntam a um grande número de pessoas em parques, santuários e templos para festejar e apreciar as flores. Em muitos lugares durante a noite, as pessoas acendem lanternas elétricas e as prendem as arvores para também poderem apreciar a beleza das flores, esse ritual noturno é chamado de Yozakura (sakura noturno).
A cerejeira ou sakura é amplamente cultuada por sua beleza em todo o território japonês, chegando a ser adotada por todos os prédios públicos e escolas do país, é comum visualizar um sakura em flor das janelas de edifícios governamentais e de escritórios.
Isso porque o Honshu, que é o primeiro dia de trabalho e de voltas as aulas acontece exatamente no período de florescimento das sakuras. Ou seja, voltar a trabalhar e estudar no Japão se difere muito do Brasil, pois tanto alunos, quanto professores e funcionários públicos se sentem motivados a voltar a sua rotina anual, já que ao olharem pelas janelas poderão vislumbrar a coloração rosa das belas sakuras.


Sapporo Yuki Matsuri
O Festival de Neve de Sapporo é um dos maiores festivais da província de Hokkaido e acontece na primeira semana de fevereiro (5 e 11 de fevereiro), no parque Odori Koen no centro da cidade de Sapporo, a quinta maior cidade do Japão e capital da província de Hokkaido.
O parque Odori é gigantesco, composto por doze quadras distribuídas em 78,901 m².
Conhecido mundo a fora pela sua competição de escultura de gele e neve o festival atrai visitantes do mundo todo, e chega a reunir cerca de 2 milhões de visitantes. É também um dos principais festivais japoneses copiados por outros continentes, é possível encontrar festivais similares em países, como Canadá, Estados Unidos e China.
Durante os meses de fevereiro a região de Hokkaido registra índices baixíssimos de temperatura, algo em torno de 10 graus negativos e muita, muita neve. O que propicia a principal atração do evento, que é a criação de esculturas de gelo.
Mas não se enganem achando que o festival se resume apenas a construção desses monumentos feitos de gelo, também são oferecidos aos visitantes, espetáculos de luz e som, shows de música, competições de patins, snowbord, esqui e outros esportes de gelo.
Ainda é possível localizar estandes de culinária típica japonesa, especializadas na culinária de Hokkaido e até mesmo estandes de culinária étnica, com espaço até mesmo para pratos típicos do Brasil, como o churrasco gaúcho.


Bunraku
Basicamente traduzido como teatro de bonecos, o bunraku é uma das mais importantes heranças da cultura popular japonesa, e serve para contar as histórias do país ao longo das eras.
No palco, bonecos vestidos com quimonos dançam e interpretam esboçando movimentos quase humanos e exibem para o público a história de seu povo e de sua terra.
Mulheres tocando shamisen
A exibição dos bonecos é acompanhada pelo som do shamisen (instrumentos de três cordas, cuja caixa de ressonância tem um tampo de pele de gato ou cobra) o qual da ritmo e marca o compasso da narrativa e o movimento dos bonecos. Além do Tayu que recita o Joruri que é um tipo de poema semelhante a um drama épico.
Cada boneco é manipulado por até três homens, chamados de titereiros, devo citar que a aprendizagem para essa arte leva cerca de dez anos para cada estágio de manipulação. Os bonecos do Bunraku seriam uma espécie de primo dos famosos bonecos de Olinda.
O bunraku é exibido com frequência em todos os teatros japoneses e as vezes na rua e não possui data especifica para ocorrer, é na verdade um grande exemplo de manifestação cultural e de como o ser humano pode evoluir sem se esquecer de suas origens.


Ainda cita-se outras formas de espetáculos teatrais como o Noh uma peça teatral que combina canto, pantomina, música e poesia; o Rakugo, que seria mais ou menos como o nosso stand-up e o Yosakoi que é uma canção de amor tradicional da província de Kochi.
Findando as amostras dos festivais, devo relembrar que mesmo sendo grande a influência dos festivais e tradições japonesas no Brasil, essas se encontram restritas as regiões Sul e Sudeste do país, lar das maiores comunidades japonesas do país.

Danças

Sendo considerada uma das três artes cênicas da antiguidade, ao lado do teatro e da música, a dança japonesa também possui suas características próprias e únicas ao território japonês.
Basicamente catalogadas como danças cerimoniais e religiosas as danças japonesas existem aos montes e acreditem ou não influenciaram alguns estilos de dança conhecidos mundialmente.
A dança tradicional japonesa possui diversos estilos, mas baseia-se principalmente em dois elementos essenciais o odori (folclórico, exuberante e extrovertido) e o mai (diferenciado por uma conduta cerimonial, introspectiva e tranquila). O ideograma resultante da combinação dessas duas modalidades (mai + odori) é a palavra buyo (danças tradicionais).

Representação do mito de Amaterasu
As lendas japonesas contam que a dança foi criada pela deusa Amaterasu-Oho-Kami, a Grande Deusa Augusta que ilumina o céu, que é a deusa do sol japonês. O kojiki (registro de casos antigos) conta que Amaterasu se escondeu em uma caverna, depois de brigar com o irmão o deus Susano-o. Sem Amaterasu para trazer o calor e brilho do sol, os outros deuses cansados do frio e da escuridão começaram a dançar em volta da caverna para atrair a atenção da deusa, com o objetivo de tira-la da caverna. Vendo as sombras provocadas pela fogueira e ouvindo as vozes e risos dos outros deuses Amaterasu curiosa saiu da caverna e o sol voltou a brilhar.


Odori e Bon Odori
Odori pode ser traduzido como danças tradicionais. O Odori é uma dança típica do Japão que resume-se a saltos e pulos e a canto repetitivo de uma simples oração o nembutsu. Basicamente os dançarinos davam pulos ao ritmo do sino, que acompanhavam as orações.
As marcas registradas do odori é a leveza dos movimentos e as roupas típicas usadas com o cunho especificamente religioso. Dançava se odori para pedir aos deuses fartura na colheita.
Na verdade o Bon Odori trata-se de uma espécie de festival de dia dos finados que acontece durante o verão nórdico (julho e agosto), onde ao pôr do sol, se dança para os espíritos que saem a noite.
São tocadas músicas tradicionais e o clima de alegria e gratidão domina as ruas, durante o bom odori também é realizado o banho de lama, para celebrar as almas dos antepassados, lanternas são acesas e para depois serem apagadas em referência a sabedoria dos antepassados. Esse festival ocorre em grande parte do Brasil, é possível visualiza-lo em comunidades de imigrantes japoneses nos estados de Santa Catarino, São Paulo, Goiás, Pará, Mato Grosso, Bahia, Brasília e outros estados.


Nihon Buyo
Caracterizada pela inclusão do furi ao mai e ao odori. O furi são os gestos, movimentos e atitudes do corpo durante a dança, ou seja, a coreografia.
Durante o Nihon a bailarina usa sapatilhas para dançar, semelhantes ao ballet ocidental, os seus movimentos são ascendentes com os braços levantados acima da cabeça, corpo erguido nas pontos dos pés. Essa atitude de se colocar na ponta dos pés, é uma exemplificação da tentativa do homem de se libertar da terra e confirmar a própria existência.


Shibu e o Kenbu
O Shibu ou Senbu é a tradicional dança do leque, onde o dançarino e/ou dançarina utiliza um leque para acompanhar sua movimentação, ou para dar mais elasticidade e desenvoltura aos movimentos.
O Kenbu é a tradicional dança marcial do leque e espada, e utiliza movimentos baseados em artes marciais para expressar um poema. Essa dança utiliza as formas atuais da arte e manifestam as influencias das artes marciais tradicionais como o Kendô, a luta marcial com a espada e o judô (ambas abordadas na parte II deste especial), há ainda traços de técnicas especificas e sofisticadas do teatro e artes cênicas.


No que se refere as danças, ainda pode-se citar o kabuki buyo, a kamigata-mai, a ryukyu buyo, o shishi-mai, o sarugaku e outros inúmeros tipos de danças japonesas.
É evidente que as danças japonesas e os espetáculos culturais mesmo praticados em território tupiniquim não possui muito espaço na nossa cultura popular, restringindo-se apenas as comunidades de descendentes japoneses, porém, com o crescimento do interesse do brasileiro por essa nação e consequentemente por sua cultura, é evidente também que logo poderemos visualizar os resultados dessas influências em nosso cotidiano.
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Julielton Souza